De como acontece o fim do mundo

2016
Ganhador do Prémio de Poesia Fiz Vergara Vilariño 2015, o livro foi publicado por Espiral Maior em 2016.

Este poemário mereceu o Prémio de Poesia Fiz Vergara Vilariño 2015. Foi publicado por Espiral Maior e está traduzido ao basco por Txerra Rodriguez, em edição digital de Bookteg

Sem título

Queria escrever um poema bonito e doloroso como uma vénus abortando

Queria que pensaras na serenidade de Mandela quando digo prisão

que brilharam como esmeraldas a bijuteria das reclusas ou das carcereiras

e ao final de cada verso sorriras com iodo

Que isto passe se entendemos a vida assim

como algo tão lindo como a morte ou mais.

Este trânsito no que as comparações são espadas finíssimas e a justiça é cousa do além.

E se crês em deus, desfrutarias de ver que amor tão puro nasce das putas e as freiras em prisão aí não há competitividade nem juízo só duas mulheres a amarem-se como guerreiras

Mas voltemos ao poema

pensa nas árvores autóctones no coral

nas ondas do mar dos desenhos orientais no cheiro

delicado da flor da laranjeira com isso também sonham os presos

com beijos com pão de broa com carícias com vises

que não chegam com citalopram e meta com chutas definitivas

de heroína sem adulterar.

Alguns -os mais vivos- também sonham com vingança

mas não me vou estender com isso quero voltar ao amor.

Que não digam que este texto saiu do comité central da COPEL.

ANEDOTA Nº10

Atirou-se às vias. A eletrocussão é imediata. O corpo explodiu como eu imagino que explotará o sol dentro de duzias de miles de anos. Salpicou à gente. A mim, para além de sangue deu-me uma astilha minúscula dum osso na cara. Justo debaixo do olho por sorte. Abriu-me uma ferida. De esse dia é a cicatriz da façula e a hepatite. Foi em Hounslow West (zone 5), mas poderia ter sido em Cesures.