Álbum

Aira Editorial
2020
Que comunica unha fotografía? Que nos evoca unha imaxe instantánea dun intre que xa pasou? Charo Lopes constrúe en Álbum algo máis ca unha colección de momentos mediante a linguaxe da poesía. Esta obra é tamén unha ollada crítica ao tempo de hoxe, ás contradicións dun sistema sustentado na violencia estrutural e moitas veces desapercibida. Un alento literario que viaxa de dentro cara a fóra para sacudir a nosa forma de ollar e lembrar. [Nota da editora]

foto 3: atitude

a postura com que o cego s e aproxima à paisagem
a postura com que a surda se achega à música
a postura com que a paraplégica enfrenta a fugida

poema 12: fotogenia

a aura é uma luz

inobservável no ecrã

percutir

nas caçarolas

e que soe bonito

a vida não colhe num idioma

ou numa gama cromática ou num resultado estatístico

não há sinestesia que abarque a intensidade de olhar

para o céu

sem ferramentas

para capturar essa grandeza

Poema 17

é raro beber leite dum mamífero que não seja a própria mãe tão raro como ver a minha cara

nas fotos e pretender reconhecer-me

nessa voz

há muitas vidas sem memória essas

para as quais não se inventaram signos no quarto escuro geriátrico deserto

espécies sem articulação vocal

há quem não emprega nem uma das seis mil línguas humanas

sem forças para a auto-representação

desmantelar a autoridade

como uma aprendizagem preverbal

para elas cedermos a palavra ou o silêncio

deixar o espaço ar para todas

um lugar

onde se equivocar e seguir

fazer desenhos de árvores casas animais estrelas manchas

por exemplo

pode ser que sobrevivam os covardes mas o importante não é ser o último